E não tem jeito, a gente vai colecionando um monte de quinquilharias
que só pra nós mesmos tem o maior valor do mundo. Guarda aquela blusa que já de
tão velha o tecido ficou mais macio. Guarda os óculos da
primeira viagem que
você fez só com as amigas. Guarda a farda do último ano de colégio assinada por
todo mundo. Guardam os bilhetes, etiqueta, livros, cd’s que de tão ralados já
nem tocam mais, mas continuam guardados, só pra ler na capa o nome daquela
música que sempre foi tão linda e sempre foi o retrato da sua vida aos 13 anos
de idade. E coisas muito menores vão ganhando valor. Guarda o guardanapo com um
número de telefone e o ticket do cinema, só pra lembrar como foi bom o primeiro
encontro. Guarda fotos, bichinhos de pelúcia, agenda antiga com os seus
primeiros rascunhos. E há muito mais coisas a se guardar. Guarda-se pessoas,
lugares, cheiro, guarda-se quase uma vida inteira.
E por que não guardar?
As caixas vão se empilhando até ganharem um quarto só delas.
Chamaria até de quarto das recordações, porque o mundo todo cabe ali ou pelo
menos boa parte dele, boa parte do mundo que pelo qual já caminhei, boa parte
das paisagens que já vi, boa parte dos amigos que encontrei, boa parte dos
sonhos antigos, boa parte dos meus ontens e do meu agora. Tudo exatamente ali,
pronto para receber mais um bocado dos meus queridos “trecos”, mais um bocado
de mim.
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