Muitos
pais, amigos, parentes, vizinhos, todos em geral, ainda tentam apagar com
lágrimas o fogo de domingo que queimou tantas vidas e em que tantos futuros viraram
cinzas... Já se passaram alguns dias depois do acontecimento trágico na Boate
Kiss, contudo a chama parece que continua viva, a queimar no coração de todos
os brasileiros, sejam os que perderam alguém ali ou os que tiveram suas vidas
salvas, sejam os que ainda lutam para sobreviver nos hospitais e aqueles que se
comoveram com essa dor mesmo sem ter nenhum conhecido. Carpinejar em um texto
emocionante escrito no próprio domingo expressa exatamente essa dor.
“Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri
na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça.
A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul.
Nunca uma nuvem foi tão nefasta.
Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam
sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.
A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é
cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.
As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca
mais será controlada.
Morri porque tenho uma filha adolescente que demora
a voltar para casa.
Morri porque já entrei em uma boate pensando como
sairia dali em caso de incêndio.
Morri porque prefiro ficar perto do palco para
ouvir melhor a banda.
Morri porque já confundi a porta de banheiro com a
de emergência.
Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.
Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.
Morri porque já fui de algum jeito todos que
morreram.
Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de
novo?
O prédio não aterrissou da manhã, como um avião
desgovernado na pista.
A saída era uma só e o medo vinha de todos os
lados.
Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.
Mais de duzentos e quarenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.
Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.
Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.
Mais de duzentos e quarenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.
Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.
As famílias ainda procuram suas crianças. As
crianças universitárias estão eternamente no silencioso.
Ninguém tem coragem de atender e avisar o que
aconteceu.
As palavras perderam o sentido.”
As palavras perderam o sentido.”
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